13.3.09

Aval

Quando comecei a dizer poesia uma das poetas que eu conheci e por quem eu me encantei foi a Martha Medeiros. Apesar de pouca gente conhecer ela aqui no Rio naquela época, embora ela já fosse uma poeta super reconhecida em Porto Alegre, onde ela vive até hoje. Eu fiquei fã de poemas simples e no ponto como esse do livro Persona Non Grata.


"agora sei como se sente
uma noiva abandonada no altar

você podia tudo na minha vida
menos faltar."


Alguns dos primeiros livros de poesia dela estão esgotados, mas a Poesia Reunida da LP&M é sensacional, e o vermelhinho Cartas extraviadas e outros poemas tem, como diz o nome, poemas em verso e em forma de cartas, com coisas lindas de morrer, como esse que eu decorei no meu tempo de dizedora antes de ser poeta.


"se tenho os lábios bem desenhados e o seio esquerdo e direito
se falo com voz cristalina e o umbigo não é saltado
se o cabelo é alinhado e as orelhas estão sempre limpas
por que não me amas?


se tenho o pescoço longo e as emoções controladas
se sei responder às perguntas quase todas
se conheço a arte de sorrir com o rosto inteiro
por que não me amas?


se tenho sete vestidos para usar no sábado
se as pernas são rijas e as unhas não estão roídas
se leciono às quintas e a tristeza está bem escondida
por que não me amas?


se nado bem de costas e vivo bem de frente
se como pouco açúcar e bebo muita água
se a timidez que trago não atrapalha a dança
por que não me amas? 



sei responder às perguntas quase todas"


Depois ela escreveu Divã, que é um puta livro:


"Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor.”


O livro (um romance, apesar do trecho acima parecer um poema - é que a Martha é mesmo poeta, não tem jeito...) foi adaptado pra uma peça de sucesso com a Lilia Cabral e agora virou um puta filme também com a Lilia, um filme divertido e sensível, daqueles de fazer chorar e rir, sabe? Eu e Rodrigo fizemos o trailer, que tá bombando nos cinemas preparando a estréia nacional dia 17 de abril.


Aí ela começou a escrever uma crônica semanal na Revista do Globo, que sai todo domingo. Foi o passo que faltava pra todo mundo por aqui passasse a conhecer e adorar a Martha, e com tudo isso, hoje ela é de todo mundo, e ainda bem!


Toda essa longa história é pra dizer que é um puta aval que ela tenha gostado do Bendita Palavra, que eu mandei pelo correio lá pra Porto Alegre e ela recebeu essa semana. Ela já tinha sido uma querida quando eu lancei o substantivo feminino e agora me mandou um email lindo, que eu nunca comentaria porque acredito na intimidade da correspondência, mas aí ela inventou de também postar um poema no blog dela, então fiquei liberada pra botar pra fora essa alegria!


Um luxo, uma delícia, uma honra.

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