26.4.09

De aplausos e vaias

Domingos são sempre uma espécie de encerramento, de despedida da semana, embora quase sempre o que acaba ali seja praticamente igual ao que começa no dia seguinte, variando os detalhes que acabam sendo a parte saborosa da coisa.

Não essa semana. Os dias que o último domingo encerrou foram dias especiais, dias cheios de novidades boas, de gente nova, de surpresas e prazeres. Fui lançar meu livro em Porto Alegre e participar da FESTIPOA LITERÁRIA, festival organizado pelo Fernando Ramos, de quem eu tinha falado um pouco antes de viajar. Pois agora na volta posso falar com propriedade: foram quatro dias de debates, mesas redondas, saraus, encontros de poetas, contistas, cronistas, romancistas, conversando sobre os seus fazeres e sobre literatura sem pompa, sem formalidade, trocando experiências e livros e se divertindo juntos, que é o que afinal consolida os laços.

A noite de abertura teve o Veríssimo, que foi o homenageado do festival, e foi muito bacana ouví-lo ali, na cidade dele, dar pra ele meu livro e fazer a tietagem básica.




(foto de Marco Aurélio Marques)

Depois disso não teve mais tietagem e teve foi camaradagem, a possibilidade rara de conhecer escritores de lá e até daqui, como o Leo Marona, poeta gaúcho que mora no Rio desde pequeno e que lança mês que vem pela 7Letras o seu livro de estréia, Pequenas biografias não-autorizadas. Também foram ótimas surpresas a Ana Mariano, gaúcha que lançou pela LP&M o Olhos de cadela, a Carol Teixeira, cronista e contista e agitadora e bacanérrima, cujo último livro chama Verdades e mentiras. Teve ainda o Luis Pimentel, jornalista e escritor que lançava O grande homem mais ou menos, de contos, e o Sidnei Schneider, poeta que mediou a mesa da qual eu participei e cujo livro mais recente é o Quichiligangues.

A temporada por lá teve debates, bares, teatro (fui ver Medéia no Teatro São Pedro, lindos o espetáculo e o teatro em si), mas o melhor foram os amigos novos que me receberam como antiga: a Adriana Deffenti e a Dani Rauen, cantoras e queridas, a Letícia Bertagna, que eu conheci no festival de cinema de Juiz de Fora ano passado e me levou pra ver o pôr-do-sol no Gasômetro e tomar café na Casa de Cultura Mário de Andrade, a Carol Teixeira e o Fredi, marido dela, escritora e músico e casal ótimo e animadíssimo.

Tudo isso sem falar no Fernando Ramos, que inventou e agitou essa loucura toda, e na Julia, namorada dele, que deu o apoio fundamental pra coisa rolar macia, além de me dar mil caronas no maior bom humor.

O ponto alto da temporada foi a noite de sexta-feira, depois de um debate e do lançamento na livraria Letras & Cia, quando rolou um sarau no Sintrajufe, que vem a ser o sindicato dos funcionários do judiciário do Rio Grande do Sul. Parecia insólito e foi o máximo: era um espaço super aconchegante, um palcão com microfone e luz bacanas, mas o melhor era a platéia super atenta e ligada. Subi depois de uma banda ótima, os POETs, formada por poetas e com letras super bem humoradas e melodias gostosas.

Falar poesia depois de banda é sempre um desafio, então já ataquei logo de Musa do século 21, pra conseguir surpresa e com ela silêncio. Deu certo, daí emendei com o Pau mole e a platéia ficou louca. Acho que nunca fui tão aplaudida, tão entusiasticamente, e se fui já nem me lembro. Com o silêncio e os olhares atentos das pessoas emendei mais uns tantos poemas, e quando terminei o último veio o auge: pedidos de bis! Me senti a Madonna, juro. Disse mais uns poemas e quando desci do palco recebi de perto os elogios, os abraços, os olhares intensos, e vendi todos os livros e cds que tinha levado.

Fui pro hotel feliz que só, me sentindo híper querida em Porto Alegre, vendo a minha poesia funcionar fora de casa, sem o carinho dos amigos pra puxar os aplausos. Acordei nesse clima e logo soube que tinha saído uma resenha do Bendita Palavra no Globo. Parecia o céu na terra, parecia que eu era a eleita pra ser feliz e compreendida, que o meu trabalho finalmente tinha alçado vôo pra além de casa, e era isso mas não era, porque a resenha era bem ruim.

A primeira leitura foi um choque, como imagino que sempre seja saber que alguém não gosta do que a gente faz. E entre muitas sensações daquele momento a que mais ficou foi que é ótimo que o Prosa & Verso tenha selecionado meu livro pra ser resenhado, que entre tantos lançamentos ele tenha sido destacado, e ainda que o resenhista não tenha gostado é genial ter esse espaço.

Se eu não preferia o elogio? Claro que sim, mas percebi também que elogio a gente recebe sempre, e crítica quase nunca. No meio dos aplausos calorosos da noite anterior, certamente teve também gente que não gostou, mas esse não vieram bater no meu ombro e dizer "olha, detestei". Quem não gosta nunca fala, quem gosta sempre. Então achei um ótimo contraponto ler essa resenha no momento ótimo em que eu estava, e talvez justo por isso eu estivesse forte pra não me deixar abater pela crítica e entender que ela faz parte do jogo de estar exposta.

Lutei tanto pro livro ir pra rua, pra ele fazer barulho, com a ajuda de Manu e Rafa corri atrás de cada linha de jornal, de cada nota, como é que agora vou reclamar de meia página de jornal, com o nome do livro, meu nome, e a foto da capa ainda por cima?

Então esse domingo foi o encerramento de tudo isso, de aplausos ao vivo e vaias por escrito, de muito carinho e muito riso, de uma cidade de braços abertos pra mim, de novidades e surpresas. Foi tudo bom pra caralho. E que venha mais!

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