9.4.11

Não renunciando (Tony Hoagland)

Eu sempre pensei que ia pegar a Elena
na biblioteca uma tarde, e ela ia me empurrar gentilmente pra trás
pro corredor de 822.7 na Classificação Decimal de Dewey,
e a gente ia transar no beco sem saída do drama do século 18.

Ou eu pensava que a gente ia se encontrar por acaso
numa pousada na costa de Delaware,
e se enroscar num tobogã
de edredons de ganso e chá de camomila.

Quando eu voei sobre as planícies do Wyoming,
eu sonhei em tirar a camisa de cowboy dela
e ver a sua pele pálida num campo de grama varrido pelo vento
que nos manteria completamente fora de vista,

e mesmo no Museu Nacional Britânico
eu caí num transe na frente da maquete
do castelo e do fosso, a ponte levadiça
e a catapulta, com todas aquelas partes móveis.

Essa é a imaginação de um homem.
Ela encolhe e aumenta ao longo da sua vida,
como uma espécie de intumescência. Eu não estou me vangloriando
e estou não estou renunciando.

Eu fiquei de pé em um jardim,
olhando pro outro através da cerca.
Eu pensava que tivesse que mudar a minha vida ou desistir,
mas eu não tinha. Ano após ano

elas foram se misturando:
a sonhada com a real,
a real com a sonhada - os dois jardins

mandando suas vinhas flexíveis e sinuosas,
suas raízes e flores em botão,
incessantemente através das fronteiras.

2 comentários:

Mariza Leão S disse...

Lindo !!!!!!!!

maria rezende disse...

Esse cara é inesgotável! Bom demais!